entrava um barril de vinho para a despesa, ou um saco de feijão, se aparecia um novo aparelho de porcelana à mesa do almoço ou do jantar, Amâncio ficava à espera da fatura que, à noite, impreterivelmente, passava das mãos da rapariga para as suas.

Amelinha, essa então, já não procurava rodeios para lhe arrancar as coisas. Quando precisava de um vestido, de uma jóia, de um chapéu, dizia-lhe secamente: "Deixa-me tanto, que amanhã tenho de fazer compras."

E as despesas da casa recrudesciam, à proporção que minguavam os lucros. O guarda-livros despedira-se porque afinal chegara a época do seu casamento, e ninguém o substituiu; só ficou o advogado que deixaria por mês, quando muito, uns duzentos mil-réis.

Amâncio ia suportando a carga silenciosamente, certo de que não encontraria dificuldade em despejá-la, assim que a coisa lhe cheirasse mal.

Todavia, o dinheiro era já o único recurso de que dispunha para fazer calar a amante, quando esta lhe falava em casamento. Em tais ocasiões, a rapariga chorava quase sempre; dizia-se infeliz; queixava-se da sorte. "Que Amâncio fora a sua perdição! que ela cedera aos rogos dele na persuasão de que era amada e de que mais tarde seria sua esposa!"

— Ora, filha! Nós, antes de cairmos na asneira em que caímos, não tocamos uma só vez em casamento; e, se queres que te diga com franqueza, eu até nem supunha ser o primeiro com quem tivesses relações!...

Ela irritava-se ao ponto de ameaçá-lo com um escândalo. Amâncio que se não enganasse, pois que havia ainda um João Coqueiro sobre a terra! Ele que não caísse no descoco de querer desampará-la, porque então as coisas lhe sairiam mais atravessadas!