Estas rezingas terminavam sempre por uma nova exigência de Amélia. E já se não contentava com um chapéu ou com um par de botinas, queria vestidos de seda, jóias de valor e dinheiro para gastar.

Uma noite, Amâncio ficou abismado por lhe ouvir falar na compra de um chalé nas Laranjeiras.

— Sim! reforçou ela, ao perceber que o rapaz não tomava a sério suas palavras. — Despedia-se Tavares e ficaríamos à vontade por uma vez! Eu não estou satisfeita aqui!...

Ele tornou a sorrir. — Amélia com certeza estava gracejando...

Mas a rapariga jurou que não, recorrendo a todos os segredos de sua ternura. Afinal, vendo que o amante não cedia, zangou-se como de costume.

— Tu assim o queres; disse, arrancando-se dos braços dele — pois bem, tu assim o terás! Amanhã hás de ver o que sai nesta casa!

Amâncio encolheu os ombros.

— Não te importas?! Pois veremos quem tem razão!

E limpando os olhos:

— Ingrato! Porque sabe que a gente o estima, abusa deste modo! Tola fui eu em me deixar seduzir!...

— Eu não a seduzi! Ora essa!

— Até fez mais, replicou ela — desonrou-me!

— Pois desonrada ou seduzida, não tenho dinheiro para comprar casas!

Amélia saiu essa noite do quarto do estudante ameaçando fazer estourar a bomba no dia seguinte.

E, pela manhã, quando Amâncio, ao seguir para as aulas, lhe foi dar o beijo favorito, ela muito amuada, voltou o rosto, resmungando "que a deixasse".

O rapaz prometeu que "ia pensar" e à noite daria uma resposta.