crescia dentro dele, produzindo-lhe arrepios que principiavam na ponta dos pés e iam-se estendendo pela espinha dorsal, até lhe interessar a cabeça, depois de percorrer as regiões abdominais.

Mas embaixo, na varanda, em presença de Amélia e Mme. Brizard, fazia-se forte, a despeito da palidez que lhe alterava as feições. Nem de leve falou nos sonhos dessa noite, e Coqueiro, a título de metê-lo em brios, contou várias anedotas de examinandos ridículos.

Os dois tomaram café e por fim saíram. O trajeto de casa à escola foi um martírio para Amâncio, afigurava-se-lhe, como no sonho, que se dirigia ao patíbulo.

Chegou às dez horas. Alguns companheiros de ato já lá estacionavam em magotes de quatro e cinco pelos corredores ou à porta da secretaria; fumavam-se cigarros consecutivos, discreteavam-se os assuntos da ocasião. Amâncio cumprimentou os conhecidos, parando aqui e ali, falando sobre os pontos do exame; — qual preferia que saísse, em qual se presumia menos fraco e capaz de fazer figura.

Agora sim, estava mais animado; a presença dos colegas o robustecia com um vago espírito de coletividade. Sentia-se mais forte e resoluto ao lado dos companheiros de perigo, como se a vitória dependesse do número de combatentes.

Entretanto, faziam-se horas. Os examinadores estavam já reunidos na sala de exames, em torno da sua mesa forrada de pano verde. Amâncio lobrigava-os pela frincha da porta entreaberta e ouvia-lhes o murmurar descuidoso da conversa, intercalada de risotas e baforadas de charuto.

À vista daqueles homens resfriaram-lhe de novo as mãos e voltaram-lhe os calafrios do terror, algum resto de confiança, que ainda teria em si, evaporou-se de todo.