E, para não sucumbir, procurava acreditar na eficácia dos empenhos que arranjara; seu espírito, como o náufrago que braceja na agonia da morte, já não escolhia os pontos a que se agarrava; tudo servia naqueles apuros, tudo era um pretexto de esperança; mas a consciência da verdadeira situação vinha meter-se de permeio, arrancando, uma por uma, todas as tábuas de salvação.

E Amâncio arquejava, desorientado, perdido.

— Que diabo viera fazer ali?! Para que se apresentara? por que não se guardou para o ano seguinte ou quando menos para março? Antes não tivesse pago a segunda matrícula! Oh! se o arrependimento salvasse!...

E, à proporção que se avizinhava o momento supremo, mais e mais imprudente lhe parecia a sua temeridade.

— Naquela ocasião, pensava ele — bem podia estar na província, à testa dos seus negócios, ao lado de sua querida mãe, passeando, rindo, gozando, como nos outros tempos!... Era rico, era já tão estimado antes da academia, para que então sofrer semelhantes torturas, passar por aqueles maus quartos de hora, que ali estava curtindo?...

E vinham-lhe venetas de fugir, abandonar tudo aquilo, sem dar satisfações a ninguém, correr à casa do Campos, encher-se de dinheiro e arribar para a Europa, para o inferno! contanto que se livrasse da obrigação de expor uma ciência que não tinha, escrever idéias de que não dispunha!

Mas o bedel havia surgido e principiava a "chamada", e, a cada nome, recitado pausadamente, o seu olhar mórbido, de funcionário público no cumprimento de um velho dever enfadonho, consultava a multidão de estudantes, que em sussurros se apinhava pelo esvaziamento das portas, empurrando-se una aos outros, impacientes,