Todavia, seu pensamento trabalhava: "Era preciso acabar com aquilo, custasse o que custasse! Era preciso definir as posições! — Ou a mulher de Campos se explicava, ou ele não poria lá mais os pés!"

E resolveu que o melhor seria escrever-lhe uma carta, uma carta enérgica, decisiva, exigindo um "sim" ou um "não". Fosse a resposta qual fosse, contanto que viesse, contanto que Hortênsia desembuchasse por uma vez!

Mas não queria escrever enquanto Amélia não pegasse no sono. — Ele bem sabia o quanto era a rapariga desconfiada e fina. Só quando a pilhou quieta e presumiu que já estivesse dormindo, foi que se animou a minutar a carta.

Frases e frases desesperadas e cheias de fogo acavalavam-se umas pelas outras, falando em martírios infernais, em suplícios dantescos e terríveis aniquilamentos. E Amâncio, no seu epicurismo estrepitoso e brutal, declarava que "já não podia suportar as meias promessas, os dúbios sorrisos e lentas torturas que ao sangue recalcado lhe impunham as atitudes perplexas, de Hortênsia. Preferia a dor por inteiro, completa, de um só golpe. Ela que tomasse uma resolução, que despachasse! Se lhe não convinha o amor que ele propunha, declarasse-o com franqueza: — ficaria o dito por não dito! E assim, escusavam de prosseguir naquele encarniçamento desabrido, de cujo oscilante resultado as dúvidas e incertezas o acabrunhavam e consumiam, mais dolorosamente do que tudo que pudesse haver de terrível e cruel em uma solução desfavorável!"

Quando deu por bem correto e limado o que escrevera, tirou a limpo uma cópia, sobrescritou-a e, para que Amélia não descobrisse nada, escondeu todos os