corpos de delito no fundo de uma das gavetas da secretária. Depois, como se tivesse alijado um novelo da garganta, respirou desafrontadamente, amorteceu o bico de gás e, abafando os passos e desfazendo-se em cautelas, foi meter-se nos lençóis, muito empenhado em não acordar a amante.

Não levou dez minutos a cair no sono.

Então, Amélia ergueu-se, ainda com mais cuidado do que ele se recolhera, foi pé ante pé à secretária, tirou a carta e, depois de guardá-la em lugar seguro, tornou de novo à cama, e desta vez adormeceu deveras.



Leu-a precatadamente no banho, às oito horas da manhã, enquanto esperava que o tanque de mármore se enchesse.

Amâncio ainda ficara no quarto.

Ela, já despida, encostada ao rebordo da banheira, os ombros curvos, uma perna sobre a outra, a cabeça descaída molemente para os ombros polposos do seio, tinha em uma das mãos a pequena folha de papel e, de tal modo a fitava, que parecia disposta a consumi-la com o brilho iracundo de seus olhos.

Aquela carta a revoltava muito; não por ele, mas por si mesma; não pelo afeto que teria ao estudante, mas pelo ressentimento de seu amor-próprio ofendido. Não lhe podia sofrer a vaidade que um homem, a quem, por merecer, ela fizera tudo que estava em suas mãos; um homem por quem lançara em jogos os recursos de sua feminilidade; um homem por quem barateara todo o valimento do seu corpo, tivesse ânimo de desprezá-la por uma outra mulher!

E, com o olhar imóvel sobre a nudez oriental de seus membros, a boca entreaberta, o colo palpitante,