Amélia se concentrava toda na idéia de uma vingança completa, tão completa, tão grande que lhe atulhasse o rombo cavado no seu orgulho de mulher traída.

A água, que escorria da torneira com um trapejar, monótono, punha no ambiente desagasalhado do banheiro uma impressão ainda fria de umidade e desconforto; e aquele corpo nu destacava-se ali como uma bela estátua desprezada. Sua carne tersa e maciça contraía-se, empinando os lóbulos do peito e enrijando a vermicular protuberância dos quadris.

Nisto, uma abelha voejou à roda da cabeça de Amélia, tentando pousar-lhe nos cabelos; ela agachou-se toda, fugindo logo num movimento medroso de caça que se assusta. Em seguida, puxou a toalha do cabide e pôs-se a dardejá-la contra o dourado importuno.

Foi uma luta. O inseto fugia; ela trepava-se à borda do tanque, equilibrando-se, ora num pé, ora no outro, segurando-se à parede, vindo, recuando, a despedir para todos os lados golpes perdidos na toalha.

Mas a abelha não se deixara prender. Ia e revinha no ar, zumbindo, a sacudir as suas trêmulas asas de escumilha; até que o sol, por uma frincha do telhado, veio buscá-la numa aresta de luz, ainda mais dourada do que ela.



Nessa ocasião, Amâncio, no quarto, perdia a cabeça à procura da carta.

— Pois se eu a guardei aqui, com estas minutas!... resmungava ele sozinho, depois de ter já desarrumado toda a gaveta.

Imaginar que Amélia desse com ela, não! não era possível! Não descobriria o lugar, onde Amâncio, tão previdentemente, sepultara a maldita carta; além disso,