— Sei lá! replicou a outra. — Comigo que não a tenho... isso afianço!

— Diabo! praguejou Amâncio, sem se poder dominar. — Pois, nem uma miserável carta posso ter nesta casa?! Arre! que inferno!

— Inferno são esses modos que tens ultimamente! De certo tempo para cá é esta boniteza! Parece que falas ao Sabino! Ora quem sabe!... quem sabe se tenho aqui algum senhor?!...

— Está bom! Basta!

— Basta vá ele! seu atrevido! Quero saber que culpa têm os mais com os sumiços que levam as cartas, para ouvir impropérios desta ordem!

— Eu não me dirigi a ninguém! Sebo! Falo cá comigo! Creio que ao menos tenho o direito de zangar-me quando entender!

— Sim, mas é que os outros também não estão dispostos a aturar desses repelões a todo o instante!

— Pois que não aturem!

— Malcriado! Agora, por qualquer coisinha é isso que se vê!

— Qualquer coisinha não! berrou Amâncio. — É que ontem pus aqui uma carta (soltou um murro na secretária) e a carta desapareceu! Irra!

— Mas quem é que te podia vir aqui tirar a carta, criatura de Deus?! perguntou Amélia mais branda, encaminhando-se para o amante, a modos de querer chamá-lo à razão.

— Não sei! O fato é que a pus aqui, e ela cá não está!

— Há de estar, homem! Não a encontras agora porque já não tens cabeça, mas, logo que te acalmes, hás de descobri-la...

— Mas onde? Já corri tudo!