— Deixa estar; eu me encarrego de procurá-la assim que saíres.

— Mas é que eu precisava levá-la comigo! É negócio urgente!

Amélia, como em resposta à última frase do rapaz, abaixou-se sobre os papéis espalhados no chão e começou a examiná-los, um por um.

— Não está aí! observou Amâncio zangado, a passear de um lado para outro. — Já revistei tudo isso mais de cem vezes! Furtaram a carta, não tem que ver!

Amélia já não respondia e continuava, muito afoita, a esquadrinhar o que havia pelo quarto.

— Se me lembro perfeitamente que a meti naquela gaveta, ao fundo, dentro destas minutas!... acrescentou Amâncio, depois de um silêncio colérico.

— Mas quando a trouxeste?... disse Amélia, sem tirar os olhos do que rebuscava.

— Ontem à noite.

— Mas eu não te vi com ela...

— Já estavas dormindo, guando a pus na gaveta.

— Quem sabe se ficou naquela algibeira?...

E a manhosa, com um vislumbre, largou tudo de mão para correr a examinar a roupa de cabide.

— Ó filha! Eu não estava bêbado quando me recolhi! observou Amâncio.

E tocou para o banheiro traçando furioso o lençol em volta do corpo, num gesto melodramático.

Quando tornou ao quarto, Amélia já havia arrumado as gavetas e dispunha sobre a cama a roupa que o rapaz devia vestir á volta do banho.

— Então?... perguntou ele, ao entrar.

— Nada! volveu ela, com admiração na voz.

— Com efeito! Isto contado não se acredita!... rosnou Amâncio, enfiando as meias.