E gritou para fora:

— Ó Sabino! Olha essas botas, moleque!

Amélia, ao lado, metia-lhe os botões numa camisa engomada.

E depois, a escovar-lhe o paletó no corpo, quando o estudante já estava ao ponto:

— E a carta, de quem era?...

— De Campos, respondeu ele, sem hesitar.

E saiu. Amélia acompanhou-o pelas costas com um riso de asco.

E logo que se viu só, tirou do seio o seu furto e releu-o mais uma vez.

— Que devia fazer daquela carta?... como se devia servir daquela arma?... Denunciar o infame? — atirar-lhe à cara a prova de sua vilania e nunca mais o procurar para nada, ou devia simplesmente fingir que não sabia de coisa alguma, e em segredo, tomar a vingança que lhe parecesse melhor?

Despedi-lo por uma vez — não convinha! isso nem por sonhos! Ficar, porém, eternamente resignada e submissa, também seria asneira!

Seu amor-próprio estava mordido e sangrava. O procedimento desleal de Amâncio assumia no tribunal egoístico de seu espírito ignorante e mal-educado as proporções jurídicas de um crime, de um monstruoso abuso de confiança, um estelionato. Não se podia conformar com a idéia daquela tremenda injúria, lançada contra os seus direitos de mulher nova e bonita.

— Canalha! murmurava consigo, a esmoer o fato. — Bem me dizia o coração!... Agora, o que precisavas que te fizesse, sei eu! Ah! Mas descansa que hás de