dentro os corações lhes bocejavam, aborrecidos e fatigados.

O dia da viagem chegou sem novidade alguma. Amâncio levantou-se como das outras vezes, apenas um pouco mais cedo. Olhou por um momento Amélia que ainda dormia, toda sumida nos lençóis, vestiu-se cautelosamente para não a acordar; depois foi à varanda, bebeu café e saiu em ar de passeio.

No Largo do Machado tomou um carro e bateu para a república de Paiva.

Não encontrou o colega, havia já saído. — Devia estar à sua espera com a bagagem, no cais Pharoux.

Amâncio mandou tocar o carro para lá. E, à proporção que se aproximava do mar, crescia-lhe por dentro um vago sobressalto de impaciência e de medo.

— Anda! Gritou ao cocheiro, espiando repetidas vezes pela portinhola e apalpando de instante a instante o bilhete da passagem que tinha no bolso.

Estava comovido, principiava a sentir pena de deixar a Corte; apareciam-lhe saudades das boas noites com Amélia, das patuscadas com os amigos. E um mundo de recordações formava-se e transformava-se atrás dele, fugindo, desaparecendo como sombras que se esbatem.

Para disfarçar a impressão desagradável de tais mágoas, procurava embriagar-se com a idéia das aventuras que o esperavam na província, grupando na fantasia tudo aquilo que o pudesse interessar de qualquer modo; e compunha, e construía, inventava episódios, cenas, dramas inteiros, nos quais lhe cabia sempre a principal figura. E, depois de bem mergulhado nos seus devaneios, depois de bem envolvido na alacridade de seus sonhos de glória, o Maranhão aparecia-lhe risonho e brilhante como a última expressão do que há de melhor sobre a terra.