mostrava-se ferozmente empenhado na questão. Nunca esteve tão verboso, tão cheio de entusiasmo e tão fecundo em citações latinas. Viam-no, a cada passo, em todos os grupos da Rua do Ouvidor, berrando, gesticulando sobre o assunto, como se tudo aquilo lhe tocasse diretamente.

— É incontestável, exclamara ele a quem lhe caía nas garras — é incontestável que Amâncio foi vítima de uma arbitrariedade! E esse delegado das dúzias que, sem mais nem menos, o mandou recolher à prisão — prevaricou! Prevaricou, principalmente porque Amâncio nada mais fez do que desflorar mulher virgem maior de dezessete anos, o que, perante a nossa lei, não constitui crime! Por conseguinte, a prisão preventiva não devia ser efetuada!

E a sua voz, aguda e sistemática, repetindo a frase friamente obscena da lei, causava no auditório o efeito vexativo que nos produz um cadáver nu.

Hortênsia já se escondia no quarto, quando o maçante se lhe pespegava em casa.

— Ah! Ele havia de mostrar a esses advogadozinhos de meia tigela, os quais, mal surge um processo andam a oferecer-se como protetores de qualquer uma das partes e acabam sempre por comprometer a causa! — Ele havia de mostrar o que é dignidade e retidão na justiça! E, se não tivesse outro meio escreveria uma série de artigos quer os poria a todos na rua da amargura! Campos, havia de ver!

E, chegando-se para este, em atitude misteriosa:

— Mas o senhor, justamente, é quem me podia ajudar se quisesse!...

— Ajudá-lo?

— Sim! Nós dois, brincando, dávamos cabo da panelinha de Coqueiro! Que julga? Sei tudo! Vi — com