A Rua dos Ourives estava quase intransitável com a multidão que se precipitava freneticamente para ver sair o absolvido. À porta do júri, o tal grupo de estudantes capitaneado pelo Paiva, esperava-o formando alas ruidosas. Tudo era impaciência e sofreguidão.

Afinal, apareceu o homem. Vinha muito pálido e um pouco mais magro.

Ouviu-se então um rugido formidável que se prolongava por toda a rua. Os chapéus agitaram-se no ar.

— Viva Amâncio de Vasconcelos!

— Vivô! repetiram os colegas.

— Morram os locandeiros!

— Morram os piratas.

Amâncio passava de braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma mulher formosa.

Mas Paiva e Simões apoderaram-se dele, e, seguidos pelo enorme grupo de estudantes, puseram-se a caminho para o hotel, entre as contínuas exclamações de entusiasmo, que rompiam de todos os pontos.

Entraram na Rua do Ouvidor. Por onde passava o bando alegre dos rapazes, um rumor ardente, ancho de vida, enchia a rua num delírio de vozes confundidas. As portas das casas comerciais atulhavam-se de gente; pelas janelas dos dentistas, das costureiras e dos hotéis, surgiam com o mesmo alvoroço, cabeças femininas de todas as graduações: — senhoras que andavam em compras; raparigas que estavam no trabalho, professoras de piano, atrizes, cocotes; e, em todas igual sorriso de pasmo, olhares incendiados, bocas entreabertas a balbuciar o nome de Amâncio. Braços de carne branca apontavam para ele num tilintar nervoso de braceletes.

— É aquele! diziam. — Aquele, moreno, de cabelo crespo, que ali vai!