— Mamãe! mamãe! gritavam doutro lado — venha ver o moço rico que saiu hoje da prisão!

E flores desfolhadas choviam-lhe sobre a cabeça, e os lenços de renda borboleteavam e iam cair-lhe aos pés, como uma provocação, e olhares de amor entornavam-se das janelas entre o ruidoso e pitoresco cata-sol das mulheres em grupo.

E Amâncio, tonto de prazer caminhava no meio dos amigos, abraçado a um grande ramo de flores naturais, que um preto lhe acabava de entregar e em cuja larga fita pendente via-se o nome dele em letras de ouro. Era uma lembrança de Hortênsia.

E o bando crescia sempre. O Largo de São Francisco já estava cheio e ainda a Rua do Ouvidor não se tinha esvaziado.

Ao passar pela Escola Politécnica, ouviram-se estalar foguetes e os vivas a Amâncio e à Liberdade reproduziram-se com mais veemência. Os músicos alemães responderam da porta do hotel com a Marselhesa. — A vertigem chegou então ao seu cúmulo, inflamada pela vibração corajosa dos instrumentos de metal. A Rua do Teatro, o Rocio e todos os becos e travessas circunvizinhas já se achavam tolhidas de povo; as janelas do Hotel Paris destacavam-se embandeiradas e cheias de gente, como nos dias de carnaval. E aquela festa, ali, no coração da cidade, tomava um largo caráter de manifestação pública.

Já ninguém se entendia com o estardalhaço das vozes, da música e dos foguetes. Amâncio, carregado em triunfo nos ombros dos colegas, entrou no hotel ao som do grande hino, chorando de comoção e agitando freneticamente o seu velho chapéu de feltro desabado e boêmio.

Francesas de cabelo amarelo desciam com espalhafato