ao primeiro andar de Paris, para ver de perto o "tipo da ordem do dia", o belo moço de que todo o Rio de Janeiro se ocupava naquele momento — o herói daquele romance de amor que havia meses apressava tantos espíritos e sobressaltava tantos corações.

Ele, que até aí parecia sufocado e não dera palavra, como que despertou as primeiras notas da Marselhesa e recobrou de súbito a sua equatorial verbosidade de brasileiro nortista; acederam-se repentinamente as faces: os olhos luziram-lhe como duas jóias, e a sua voz era já segura e vibrante quando ao teto voaram as primeiras rolhas de champanha.

E, de pé, dominando a extensa mesa coberta de iguarias, a taça erguida ao alto, o corpo torcido em uma posição teatral, desencadeou o seu verbo apaixonado e brilhante.



Entretanto, a essas horas, Coqueiro se dirigia tristemente para casa. As mãos cruzadas atrás, a cabeça baixa, as sobrancelhas franzidas, como o ar trágico de um herói vencido.

Vira e ouvira tudo!

Oculto num botequim, vira passar o bando fogoso dos colegas que festejavam o amante de sua irmã; ouvira os "morras ao locandeiro! ao pirata!" ouvira as galhofas, os risos de escárnio, que lhe atiravam como a um inimigo de guerra. E uma raiva negra, um desespero surdo e profundo entraram-lhe no corpo que, nem um bando de corvos, para lhe comer a carniça do coração. Um duro desgosto pela vida o levava a pensar na morte, revoltado contra o mundo, contra a sociedade, contra sua família, contra a hora em que nascera.