— Maldito fosse tudo isso! Malditos seus pais! sua pátria! suas convicções! Malditas as leis todas que regiam aquela miserável existência!

Chegou lívido, sombrio, com os lábios a tremer na sua comoção mortífera. Um silêncio fúnebre enchia a casa; dir-se-ia que acabava de sair dali um enterro. Amélia chorava fechada no quarto e Mme. Brizard, estendida na preguiçosa, tinha a cabeça entre as mãos e meditava soturnamente. Sobre a mesa o almoço há horas esfriava, esquecido e às moscas.

É que já sabiam do terrível desfecho do júri: — Amâncio estava livre, senhor de si por uma vez, podendo ir para a província quando bem quisesse, porque, além de tudo, nem o dinheiro lhe faltava!...

— E eles que ali ficassem, a roer um chifre! — sem recursos, e obrigados a ocupar aquela casa, que era o preço de sua desonra comum.

— Mas, o culpado foste tu e tu! berrou de supetão Mme. Brizard, erguendo-se da cadeira com um movimento de cólera. — Se me tivesse ouvido, não ficarias agora com essa cara de asno. "Quem tudo quer, tudo perde!" Foi bem-feito, para que, de hoje em diante, preste mais atenção ao que te digo! — Agora — pega-lhe com trapos quentes!

O marido deixou cair a cabeça sobre o peito e quedou-se a fitar o chão. Mme. Brizard, depois de voltear agitada pela sala, acrescentou:

— Se fosse o único a sofrer as consequências de tuas cabeçadas — vá! Mas é que nós todos temos de as aguentar! Agora só quero ver como te arranjar! onde vais tu descobrir dinheiro para sustentar a casa! É preciso ser muito cavalo, para ter a fortuna nas mãos e atirá-la pela janela fora! Agora é que eu quero ver! Anda! Vai arrajnar hóspedes! Vê se descobres um