farnel de sardinhas, pão, queijo, charutos e vinhos. Era pagodear até pela madrugada!

Se havia chinfrim — entravam, ou então iam tomar banho no Apicum ou cear ao Caminho Grande. Em noites de luar faziam serenatas; aparecia sempre alguém que tocasse violão ou flauta ou soubesse cantar chulas e modinhas. Aos sábados o passeio era maior; no dia seguinte Amâncio estava a cair de cansaço, aborrecido, necessitando de repouso.

Mas não deixava de ir — Era tão bom passear pela rua, quando toda a população dormia, fumar, quando tinha certeza de que nenhum dos amigos de seu pai o pilharia com o charuto no queixo; era tão bom beber pela garrafa, comer ao relento e perseguir uma ou outra mulher que encontrassem desgarrada, a vagar pelos becos mal iluminados da cidade!

Tudo isso lhe sorria por prisma voluptuoso e romanesco.

Às vezes entrava em casa ao amanhecer. Não podia dormir logo; vinha excitado, sacudido pelas impressões e pela bebedeira da noite. Atirava-se à rede, com uma vertigem impotente de conceber poesias byronianas, escrever coisas no gênero de Álvares de Azevedo, cantar orgias, extravagâncias, delírios.

E afinal adormecia, lendo Mademoiselle de Maupin, Olympia de Clèves ou Confession d'un enfant du siècle.

Não penetrava bem na intenção deste último livro, mas tinha-o em grande conta e, visto conhecer a biografia de Musset, embriagava-se com essa leitura; ficava a sonhar fantasias estranhas, amores céticos, viagens misteriosas e paixões indefinidas.

As criadas da casa ou as mulatinhas da vizinhança já o enfaravam; era preciso descobrir amores mais finos, mais dignos, que, nem só lhe contentassem a carne,