se julgavam com direito de maltratar os outros. "Era estúpido! simplesmente estúpido!"
— Tradições, respondeu Paiva, com a indiferença de quem não preocupam tais bagatelas. — Isso há de acabar... A natureza não dá saltos!
Amâncio, como qualquer provinciano que ainda não tivesse ocasião de apreciar o Rio de Janeiro, julgava-se tão desiludido a respeito dele, quanto a respeito de estudos.
— Sempre imaginei que fosse outra coisa!... disse. — A tal Rua do Ouvidor, por exemplo!...
Paiva já não o ouvia, era todo atenção para um cartaz de teatro que um sujeito pregava na parede defronte.
Amâncio prosseguiu, declarando que, até ali, nada encontrara de extraordinário na Corte.
— Com franqueza — antes o Maranhão! Com franqueza que antes! Não achas?... perguntou.
— É! respondeu o outro, distraído.
Mas Amâncio precisava desabafar e não se contentou com aquela resposta. Insistiu na pergunta; chamou a atenção do Paiva, agarrando-lhe à gola esgarçada do fraque.
— Não, filho, deixa-te disso, retorquiu o interrogado. A Corte sempre é Corte!...
— Ora qual!
— É porque ainda não estás acostumado, ainda não conheces o Rio! Hás de ver depois!...
Amâncio duvidava.
— Verás! repetia Paiva. Daqui a um ou dois anos é que te quero ouvir!
E passaram de novo a falar de estudos, de matrícula e de exames.