Paiva bocejou; o outro estava "caceteando". Quis safar-se.

— Espera! implorou Amâncio, apoderando-se-lhe de novo da gola do fraque. — Espere! Onde vais tu?... Conversa mais um pouco! suplicava ele com voz infeliz de quem pede uma esmola. Não te vás ainda! Que pressa!

Paiva tinha de ir almoçar com um amigo. Estava muito ocupado! "Naquele dia não dispunha de um momento de seu!" Depois, depois se encontrariam!

— Não! Vem cá! Espera!

Paiva levantou as sobrancelhas, impacientando-se.

— Mas, vem cá, dize-me uma coisa: o que é que tanto tens hoje a fazer?... inquiriu o outro.

— Filho, questões de interesse respondeu aquele, procurando abreviar explicações. Veio-lhe, porém, um ímpeto de raiva e começou a falar alto sobre dinheiro; havia brigado na véspera com o seu correspondente.

— Um burro! exclamava — um vinagre! Imagina tu que o malvado sabe perfeitamente que não tenho ninguém por mim aqui no Rio, e põe-se com dúvidas para me dar a mesada!... Como se aquele dinheiro lhe saísse do bolso! Diabo da peste!

— Ele então não te quis dar a mesada?... perguntou Amâncio muito espantado.

— É o costume aqui! retrucou Paiva desabridamente. — Eles julgam que nos fazem grande obséquio em dar-nos aquilo que nos pertence!

E, olhando para Amâncio com os olhos apertados:

— Mas também, filho, disse-lhe meia dúzia de desaforos, como ele nunca ouviu em sua vida! Cão!

E expôs a descompostura por inteiro, na qual as palavras galego, ladrão, cachorro entravam repetidas vezes.