— De sorte que, terminou o estudante mais tranquilo, como se houvesse despejado um peso das costas — não tenho lá ido! Questão de capricho, sabes? olha, estou assim!

E bateu nas algibeiras.

— Isso arranja-se... disse Amâncio timidamente, receoso de humilhar o colega. E depois, com um vislumbre: Vamos almoçar a um hotel?!

Paiva concordou, sacudindo os ombros. E, como Amâncio perguntasse onde deviam ir, começou a citar os melhores hotéis, já sem deixar transparecer o menor indício de pressa.

Fazia-se grande conhecedor da Corte, muito carioca, saboreando voluptuosamente o efeito da pasmaceira que a sua superioridade causava no amigo. Deu-se logo ares de cicerone; mostrou-se habituadíssimo com tudo aquilo que pudesse causar admiração a um provinciano recém-chegado; fingiu desdém por umas tantas coisas, que à primeira vista pareciam boas e falou de outras, menos conhecidas, com entusiasmo, com interesse pessoal e com orgulho.

Amâncio escutava-o em recolhido silêncio, mas, como estivesse a cair de apetite, voltou logo à idéia do almoço: lembrou que poderiam ir ao Coroa de Ouro.

Paiva fitou-o espantado, e espocou depois uma risada falsa:

— Aquela era mesma de quem vinha do norte! Almoçar no Coroa de Ouro! Vade retro!

Amâncio não teve ânimo de defender a sua proposta, e seguiu o companheiro que se pusera a andar com ímpeto.

Entraram na Rua do Carmo, atravessaram a de São José e, ao caírem na da Assembléia, Paiva, que ia a pensar,