Precisava andar e tomar fresco. Aqueles gabinetes eram um forno — sentia-se mal.

— É que não posso ver extorquir desta forma o dinheiro de ninguém! disse Paiva indignado.

E principiou a fazer as contas pelo que se lembrava de ter vindo à mesa.

Amâncio o puxou de novo:

— Deixa lá isso, homem!

— Nada! Pelo menos hei de vingar-me aqui em alguma coisa!

O criado havia saído. Paiva Rocha principiou a derramar o resto das garrafas no açucareiro, a emporcalhar o damasco da cortina e a cuspir dentro das chávenas.

Amâncio ria-se formalmente, mas, no íntimo, aborrecido.

— Agora podemos ir! disse afinal o outro. — Ao menos deixo-lhes um prejuízo!

E ainda meteu no bolso um paliteiro e duas colheres.

Lá na república precisava-se daqueles objetos! acrescentou rindo.

Já na rua, Amâncio reparou que a cabeça lhe estava muito pesada e queixou-se de suores frios. Paiva chamou um carro, e, uma vez dentro com o colega, mandou tocar para a Rua de Mata-Cavalos.

— Esqueceste aquilo de que falamos? perguntou em viagem ao companheiro.

Amâncio já não se lembrava.

Paiva respondeu, fazendo um sinal com os dedos.

— Ah! Quanto queres?

— Dá cá daí uns cinquenta ou sessenta... depois te pagarei.

— Pois não, gaguejou Amâncio, passando-lhe três notas de vinte mil-réis.