como um homem. Afinal escapou ao professor, sim! mas continuou sob a dura vigilância do pai, do tio e das tias; todos o rondavam; todos o traziam "num cortado". Só na fazenda da avó conseguia desfrutar alguma liberdade, mas essa mesma não era completa e, ai! durava tão pouco tempo!...

Agora compreendia a razão pela qual, no mês de férias que passava aí, se tornava tão travesso e tão maligno — é que naturalmente queria desforrar o resto do ano, que levava coagido em casa do pai. De sua infância eram aqueles meses privilegiados a coisa única que lhe merecia verdadeira saudade; o mais estrangulavam tristes reminiscências de castigos, de sustos, apoquentações de todo o gênero.

A própria idéia de sua mãe nunca lhe vinha só; havia sempre ao lado da venerada imagem alguma recordação enfadonha e constrangedora. — As poucas vezes em que estavam juntos, o pai chegava no melhor da intimidade e Ângela se retraía, cortando em meio as carícias do filho, como se as recebera de um amante, em plena ilegalidade do adultério.

E a memória desses beijos a furto e medrosos, a memória desses carinhos cheios de sobressalto, relembravam-lhe às vezes que ele em pequeno se metia no quarto dos engomados, de camaradagem com as mulatas da casa que aí trabalhavam conjuntamente.

Era quase sempre pelo intervalo das aulas, no meio do dia, quando o calor quebrava o corpo e punha nos sentidos uma pasmaceira voluptuosa.

Em casa do velho Vasconcelos havia, segundo o costume da província, grande número de criadas; só no "quarto da goma" como lá se diz, reuniam-se quatro ou cinco. Umas costuravam; outras faziam renda, assentadas no chão, defronte da almofada de bilros; outras,