figurinos de papel recortado e caixinhas vazias. Algumas lhe perguntavam brincando se ele as queria para mulher, se queria "ser seu noivo". Amâncio respondia que sim com um arrepio. E daí a pouco ficavam as moças muito surpreendidas quando ao demônio do menino lhes saltava ao colo e principiava a beijar-lhes sofregamente o pescoço e os cabelos ou a meter-lhes a língua pelos ouvidos.

— Credo! disse uma delas em situação idêntica. — Que menino! Vá para longe com as suas brincadeiras!

Outras, porém, lhe achavam muita graça e eram as primeiras a puxar por ele.

De todos os brinquedos o que Amâncio em pequeno mais estimava, era o de "fazer casa". A casa fazia-se sempre debaixo de uma mesa, com um lençol em volta, figurando as paredes. Uma de suas primas, filha do protetor Campos, ou alguma menina que estivesse passando o dia com ele, representava de mulher; Amâncio de marido. A menina ficava debaixo da mesa enquanto ele andava por fora, "a ganhar a vida" até que se recolhia também à casa, levando compras e preparos para o almoço. Amarravam um lenço em duas pernas da mesa, fingindo rede, e aí metiam uma boneca, que era o filho.

Gostava infinitivamente dessa brincadeira. Mas um belo dia veio abaixo o lençol que servia de parede, e desde então Ângela não consentiu que o filho se divertisse a fazer casa.

Muitos anos depois, aos quinze, notou-se incomodado por um padecimento estranho. Não disse nada à família e procurou um homem que havia na província com grande habilidade para curar moléstias, viessem elas até do mau-olhado e do feitiço.

Santo homem! O mal do nosso estudante desapareceu