E seu desejo vil começava a despi-la, peça por peça, até deixá-la completamente nua.

— Mas não! não havia possibilidade! contrapunha-lhe a razão. — Tudo aquilo era loucura, simples loucura! Hortênsia não podia ser mais séria, mais amiga do marido! Qual fora a palavra, o gesto, que lhe dera a ele o direito de pensar em semelhante coisa?... Sim! que fizera a pobre senhora para autorizá-lo a tanto?... Onde estava o fundamento daqueles sonhos, pelos quais queria trocar a liberdade, os seus prazeres, tudo, e ficar encurralado em uma casa comercial, com obrigação de entrar às tantas, comer às tantas, e guardar todas as conveniências ao lado de uma gente impossível!?... Ora! que se deixasse de asneiras! Não fosse tolo!

Hortênsia Campos aparecia-lhe então como em verdade o era: carinhosa e altiva, afável para todos igualmente, sem dar a nenhum o direito de supor uma preferência. Amâncio já não a tinha descomposta defronte dos olhos, mas respeitosamente restituída ao seu vestidinho de chita, às suas botinas de duraque, quase sem salto, e às suas tranças honestamente penteadas.

— Mudava-se! Que dúvida! Sim! Uma vez que Hortênsia nada mais era do que uma senhora virtuosa, que diabo ficava ele fazendo ali?... Não seria decerto pelos bonitos olhos do Campos!



Às oito horas, quando entrou em casa tinha já resolvido não ficar ali nem mais um dia. — Era fazer as malas e bater quanto antes a bela plumagem!

Mas também, se por um lado não lhe convinha ficar em companhia do Campos, por outro, a idéia de se manter na república do Paiva não o seduzia absolutamente. Aquela miséria e aquela desordem lhe causavam repugnância.