Queria a liberdade, a boêmia, a pândega — sim senhor! tudo isso, porém, com um certo ar, com uma certa distinção aristocrática. Não admitia uma cama sem travesseiros, um almoço sem talheres, e uma alcova sem espelhos. Desejava a bela crápula, — por Deus que desejava! mas não bebendo pela garrafa e dormindo pelo chão de águas-furtadas! — Que diabo! — não podia ser tão difícil conciliar as duas coisas!...

Pensando deste modo, subiu ao quarto. Sobre a cômoda estava uma carta que lhe era dirigida; abriu-a logo:

"Querido Amâncio.

Desculpe tratá-lo com esta liberdade; como porém, já sou amigo, não encontro jeito de lhe falar doutro modo. Ontem, quando combinamos no Hotel dos Príncipes a sua visita para domingo, não me passava pela cabeça que hoje era dia santo e que fazíamos melhor em aproveitá-lo; por conseguinte, se o amigo não tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que nos dará com isso um grande prazer. Minha família, depois que lhe falei a seu respeito, está impaciente para conhecê-lo e desde já fica à sua espera."

Assinava "João Coqueiro" e havia o seguinte pós-escrito: "Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha."

Amâncio hesitou em se devia ir ou não. Coqueiro, com a sua figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o seu todo seco, egoísta, desenganado da vida, não era das coisas que mais o atraíssem. No entanto, bem podia ser que ali