João Coqueiro era fluminense e fluminense da gema. Nascera na Rua do Parto em uma das casas de seus pais, quando estes eram ricos.

Que o foram. Viera-lhes a fortuna do avô materno, um português ambicioso e econômico, que a conquistara no tráfico dos negros africanos; ao morrer legou à filha, ainda criança, para cima de quinhentos contos de réis. Esta, mais tarde, foi solicitada em casamento pelo homem a quem pertenceu para sempre — Lourenço Coqueiro, os maiores bigodes que nesse tempo negrejavam na Corte do Império.

Lourenço, todavia, era já um destroço quando casou. Do que fora e do que possuíra, apenas lhe restava, além do bigode, o hábito de não fazer coisa alguma; nos melhores grupos citava-se, entretanto, o seu ar distinto de fidalgo e falava-se com boa vontade de seus dotes pessoais e do seu belo espírito eternamente galhofeiro.

O casamento representou para ele uma tábua de salvação. A mulher adorava-o; tinha-o na conta de um ente superior; jamais vira homem tão lindo de rosto, tão insinuante no falar, tão delicado de maneiras.

Mas, pouco depois de casado, Lourenço começou a desgostá-la: