mente não exista; tão falso he dizer-seque ve , como que he cego.

Mas quanto a affirmação e negação, forçosamente ha de huma ser verdadeira e a outra falsa, quer o subjeito exista, quer não. Por quanto estar Sócrates doente e não estar doente são expressões, das quaes, existindo elle , huma he evidentemente verdadeira e a outra falsa: e não existindo, he falso o estar doente; e he verdade não estar doente.

De modo que são estes casos de affirmação e negação os únicos oppostos , de que he proprio que hum delles; ha de ser forçosamente verdadeiro ou falso.

85. Isto se faz manifesto pela inducção de casos particulares; como: a doença á saude : a injustiça á justiça: semelhantemente a covardia ao valor: e assim nos demais casos.

86. Porque á penúria , que he hum mal , he contraria a superfluidade, que he outro mal; e a ambas he contraria a mediania que he hum bem.

87. Porque se todo o mundo lograsse saúde; haveria saude; e não haveria doenças. Do mesmo modo se todas as cousas fossem brancas; existiria brancura: e não haveria negridão. Além disso se o estar Sócrates bom he contrario a estar Sócrates doente, e não tem lugar que nelle se verifiquem ao mesmo tempo ambas as cousas; já se vê que não se segue de existir hum contrario , que deva também existir o outro ; pois que verificando-se estar Socrates bom , não tem lugar o estar elle mesmo doente.

88. Porque tanto a doença como a saúde veri-