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Francezes chêgam até a deitar-se a nado para colher hum bote, que os leve á esquadra Ingleza. Quando, disto que digo, naõ tivesse as mais postivas provas, e informaçaõ fidedigna, bastava-me ver aqui chegar todos os dias de Portugal taõ grande numero de Portuguezes; e certamente naõ saõ as felicidades, que a falta do Commercio traz a Lisboa, quem os obriga a deixar a Pátria, os Parentes, e os Amigos, e tudo quanto o homem mais estima na terra, em que nasceo.
     Comparem agóra os Portuguezes essa sua misera existencia, com o estado em que vivem aqui os Inglezes que deixáram Portugal, ou que vivendo aqui, perdêram o negocio que tinham com Portugal. Em primeiro lugar estes homens ácham no Brazil, certissimamente, hum mercado igual, quando naõ seja superior, ao que perdêra em Portugal; mas suppondo, o que naõ concedo, que o naõ achávam; serîam obrigados estes negociantes a ter dous em lugar de quatro criados, huma carruagem em vez de duas, em huma palavra a cortar algum tanto pelo seu luxo; entre tanto que aquelles negociantes de Lisboa, que lhes vendîam os seus vinhos, e azeites, e lhes revendîam os algodoens, e mais productos vindos do Brazil, teraõ agora de fazer banca rota, ou parar inteiramente o seu giro.
     Hum Estado florecente na agricultura, com fabricas, e huma graude extensaõ de commercio interno, pode sem detrimento essencial, posto que padeça, perder por algum tempo o commercio externo. Mas Portugal, que estáva reduzido a viver quasi somente das re-exportaçoens dos productos de suas colonias, e da venda dos de seus vinhos, azeite, e fructas, cortar-lhe de repente todos estes ramos he reduzillo ao estado da ultima pobreza.
     Estes males talvez o Povo os naõ sinta taõ sevéramente ainda agora, em quanto lhe resta alguma cousa daquillo que ganhou, no tempo da prosperidade do Commercio, mas quando esses sobre excellentes, que se poupáram em outro tempo, ficárem exhauridos, o mal apparecerá entaõ