O teatro, a caixa, os artistas exerciam a sua fatal tentação e para a folia da noite Armando cortava na gaveta do patrão uma féria permanente. Mas, ao voltar uma noite à taberna, encontrou de pé, à porta, o patrão a bufar de cólera, que o espancou furiosamente, insultando-o a berrar:

— Pensavas, patife, que eu não viria a saber!

Ele foi digno. Que importavam empregos? Exigiu as suas contas, recebeu economias de dois anos que o patrão com a ameaça da polícia dera imediatamente, e caiu no oceano daquela vida sedutora, despreocupado e feliz. Passava os dias nos ensaios, nas bodegas de artistas meio esfomeados, passava bilhetes de benefício. As mulheres não o amavam, mas ele conhecia todas; os grandes cômicos não lhe sabiam o nome, mas ele, Armando, conhecia-lhes todos os papéis, tinha opiniões, criticava, sabia de cor uma porção de coplas. O ar pezado da aldeia, desfizera-o a vida na cidade; o tom grosso de caixeiro, aquele roçar com cômicos transformara. Acabou por desprezar os seus antigos colegas, e na noite de despedida da companhia, no embarque da mesma, fez loucuras de entusiasmo. Ah! Aquilo é que era! Mas já não lhe restava mais nada das economias e era preciso empregar-se. Empregos! Todas as portas se lhe fechavam nas casas de comércio, sabendo do tempo em que estivera desempregado. Alguns sabiam mesmo a história, e o próprio Armando sentia não poder mais voltar àquele trabalho, enquanto os dias iam se passando pelos teatros, pelos botequins, à