cata de dinheiro, amoldando-se ainda mais à infâmia, aos desejos misteriosos, às pândegas das noites. Por último era aquilo sujo, com fome, sem ter onde dormir, e entretanto julgando-se mais do que fora antes, julgando-se mais, reagindo contra uma resolução que o fizesse mandar buscar pelos pais ou de novo o pusesse a trabalhar. Que vida!

Armando parou à porta de um botequim numa roda de atores principiantes, de contra-regras, de figurantes. Há sujeitinhos lavados, bem como os coristas, há tipos em mangas de camisa, há também estômagos vazios. São conhecimentos das noites passadas em claro nos cafés-bilhares, nas baiucas fétidas de jogo. Armando olha um sujeito de grosso bengalão: é o chefe da claque. Cumprimenta-o, fala-lhe.

— Não tem disso, não! Fomente-se!

Mas é bom, dá-lhe uma senha. De posse da entrada, o rapaz põe-se logo a andar, embarafusta pelo teatro, atravessa o jardim sem ver ninguém, entra na caixa, sobe uma estreita escada de quatro ou cinco degraus, atravessa um monte de cenários velhos, que de vez em quando saem da poeira letárgica para um espetáculo de arromba.

Vira à esquerda, passa pelo pano do fundo para a carreira de camarins das notabilidades, sobe outra escada, dá em meia dúzia de bricoetes. Armando abre um. É o do ator Espínola. Quem é o Espínola?

Ninguém sabe. O Espínola foi comerciante, apaixonou-