se pelo teatro, passou misérias atrozes, e vive agora de fazer pontas com cento e cinquenta mil réis por mês. É tímido, é assustadiço, e tem piedade pelos outros.

— Então que há.

— Parece que a companhia dissolve.

— É o diabo. Vamos para o interior? Com quem?

— Um pequeno grupo...

Espínola pinta-se mal e dá informações. Com os olhos queimados, a face oleosa pela falta de repouso, Armando ouve-o. Lá em baixo tocam um grande sino. Vai começar. Espínola sai. Armando diminui a luz do gás, tira o casaco e deita-se na mala. Dormir, não pensar, dormir apenas... E dorme, dorme um sono mau, fatigante, interrompido pelas entradas do Espínola, cortado de toques de sino, de inferneiras de mulheres, de gritos, de músicas. Faz no camarim uma temperatura de caldeira. Afinal, à meia noite, Espínola acorda-o. Terminou o espetáculo. Armando lava a cara, penteia o cabelo, prepara-se, saem os dois devagar. Espínola não tem amantes, e por uma evidente infelicidade Armando não arranjou nenhuma. Tomam café no largo do Rocio. O bom Espínola, que habita um cômodo com mais cinco pessoas, despede-se. Armando, só, sem coragem, volta de novo ao botequim onde ganhou dez tostões. Há como ele outros rapazes, há coristas, há tipos reles. Às vezes fazem-se pândegas. Mas naquela noite ir amanhecer no Leme ou no Mercado? Não, não é possível.