Para chegar a este excesso, era preciso sofrer estrafegadamente, e Godard sofria. Tinha as pálpebras arroxadas, o semblante lívido, o olhar apuado pela preocupação constante, o gesto vago. Uma noite, de repente, depois de uma bala ter rebentado no convés, lacerando as pernas de três inferiores e espadanando sangue até na amurada, enquanto febrilmente todos nós tratávamos de remediar o mal, caiu de joelhos aos pés do comandante.

— Deixe-me prestar auxílios também! Fale-me! Fale-me! Pela sua honra, pela sua farda! Diga sim! diga não! Diga qualquer coisa!

O comandante passou-lhe por cima. Arsênio continou de rojo, pedindo, pedindo, sem ver a quem, pedindo a quem passava, indistintamente. Nenhum de nós, cheios de preocupações, pensava em ter pena. O bandido era o inimigo, e cada vez que uma bala trazia o desastre, a cólera aumentava contra a sua figura lívida de traidor desesperado.

— Pelo amor de Deus; uma palavra só, uma palavrinha! chorava ele, com a face no chão, ridículo e macabro ao mesmo tempo.

A crise acentuou-se. Arsênio resolveu conquistar os guardas com as lágrimas.

Cada marinheiro que lhe postavam como sombra tinha-o logo de joelhos, procurando beijar-lhe a mão, a fazer promessas, a pedir, a chorar. O comandante repetiu as ordens severas. Arsênio ficou sem resposta, e da humilhação passou à cólera.