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AD

Queres, misero insensato,
Este desejo cumprir?
Intentas da fantazia
Os amplos vôos seguir?
Buscas, vencendo a distancia,
Tua saudade extinguir?…

Esta saudade tão funda,
Tão viva, tão pertinaz,
Que te faz tão desgraçado,
Que tão ditozo te faz?
Que tanto te amarga ás vezes,
Que ás vezes tanto te apraz?

Pretendes tu, pobre louco,
Tuas dôres augmentar?
Desejas ao lado — d’Elle —
De martyrios te fartar?
Queres nos olhos, que adoras,
Mais desenganos buscar?

Si ao excesso do tormento
Tivesses de succumbir,
Quem tanto havia de amal-o,
Deixando tu de existir?
Quem ousaria comtigo
Em firmeza competir?

E elle, onde poderia
Tão soberano reinar?
Onde iria sua imagem
Obter tão devoto altar,
E tão desvelado culto,
Tão fervoroso — encontrar?

Deixa ir só meu pensamento
De seus vôos na amplidão.
Quem sabe, si ao lado d’outra
O acharás, coração?…
Morre embora de saudade;
Porém de ciume… não!»

Dona Adelia escreveu:

Echos de minha alma. Bahia, 1865, in-8° — E’ uma collecção de seus primeiros versos. Este livro foi-me levado de minha estante, mas delle ficaram-me deslocadas duas folhas, donde transcrevi a poesia acima.

Collaboradora constante do Almanak de lembranças luzo-brazileiro, seus escriptos têm ahi logar distincto. Entre taes escriptos ahi se acham:

A aurora brazileira: poesia em decimas rimadas, que vem no almanak para o anno de 1860, pag. 379, reimpressa no do anno seguinte, pag. 342, e tambem no volume Echos de minha alma. E’ uma primorosa composição, a proposito de outra de um distincto poeta portuguez, cantando a aurora de seu paiz, á qual antepõe a autora as bellezas da aurora do Brazil.