ama; se a minha vida é necessária à sua felicidade, tome-a; eu lhe dou com prazer; eu lhe pertenço, sem amor, mas cheia de dedicação!" Ouviu, Augusto?... Quer um juramento?

— É inútil! Eu já a não amo!

Fui sincero nesse momento. Aquele sarcasmo com que Emília respondera à minha súplica, o egoísmo frio que ela revelara, tinham traspassado minha alma, e escoado o amor até a última gota. Eu acabava de ver, a nu, o aleijão repulsivo daquele coração de moça.

— Acredite — repeti com desprezo. — Acabou, e já nem me lembro que amei! Está agora tão longe de mim esse passado!...

Ela mostrou uma ligeira perturbação; mas imediatamente sua altivez a serenou. Então, Paulo, passou-se o que só pode compreender quem viu essa mulher sublime. Fez-se nela como um jubileu de graça e luz. Aquela radiante formosura expandiu-se vertendo de si nova e mais esplêndida formosura. Imagina uma apoteose da beleza.

Emília assim transfigurada teve um sublime gesto de dúvida.

— É impossível!...

D. Leocádia entrava. Despedi-me e parti.

São duas horas da noite. Tive a coragem de não aparecer no teatro. Lembrando-me que Emília lá estava e desenhando em meu espírito a imagem de sua fulgurante beleza, achei-me calmo; perscrutei meu coração, e encontrei-o forte.

Realmente já não amo essa mulher, ou se a amo ainda, seme1hante afeição está sepultada debaixo