a cerca. Da cancela até o fim da alameda foi uma corrida só e de olhos fechados. Lá parou, tomou fôlego e correu a vista espavorida pelas densas e escuras ramadas. Disparou nova corrida, mas já senhora de si. Assim percorreu duas ou três vezes a alameda. Quando o sol nasceu, entrava ela sem ter sido pressentida, e metia-se na cama, onde sua mãe com pouco a foi despertar.
Nesse dia Emília esteve de uma alegria que não mostrara recebendo a mais enfeitada de suas bonecas. Saltava de contente; a ponta de seu pé calcava mais firme o chão como se o quisera repelir, tanto o passo era firme e altivo. A luz filtrava mais viva na pupila negra; a mão tinha tais ímpetos nervosos que partia as penas escrevendo, e amarrotava a costura.
— Foi essa minha primeira travessura — me dizia ela contando as suas recordações de infância. Daí em diante a minha afouteza foi em progresso. Um ano depois o mato já não tinha segredos para mim; eu conhecia todos os trilhos e veredas, sabia onde estava a melhor goiabeira, o cajueiro mais doce, e o coco de indaiá, de que eu era muito gulosa! Eu mesma... O senhor acredita?... trepava nas árvores, pendurava-me aos ramos, e saltava pelas ladeiras as mais íngremes.
— E sua mãe consentia nisso? perguntava-lhe eu.
— Não consentia, não! Pobre mãe! Nunca ela o soube. Eu aproveitava as horas de estudo em que me deixavam