só. A sala dava para o jardim; numa volta ou noutra eu ganhava a chácara, sem que me vissem. Demais, sonsa como era então, ninguém em casa podia desconfiar das minhas travessuras. Diante de gente tinha tal acanhamento que até já aborrecia. Minha mestra chamava a isso com muita graça a minha ferocidade caseira!

Fora assim, Paulo, que se formara essa natureza tímida ao mesmo tempo que audaz. Havia nela a transfusão de duas almas, uma alma de criança e outra alma de heroína. Só em face da natureza, a agreste poesia daqueles ermos comunicava com seu espírito e o enchia de arrojos admiráveis. Em presença de alguém a vida soldava-se no íntimo como num invólucro impenetrável; restava apenas na superfície uma sensibilidade irritável.

Com a idade essa menina assumira a pouco e pouco o governo despótico da casa e da família. Desde o pai até o último dos escravos todos lhe obedeciam cegamente. Ela recebia com gentileza de moça e dignidade de senhora a homenagem devida à superioridade do seu espírito.

Um dia, Emília, que já começara a freqüentar a sociedade, surpreendeu sua alma triste e desconsolada no meio daquela velha habitação; pareceu-lhe isso um degredo dos ricos salões onde algumas noites se expandia a sua beleza.

Disse então uma palavra. De repente o feio edifício surgiu das ruínas maior e suntuoso, entre jardins, mármores e repuxos; foi coberto de