Austro n’agua involvendo a nau e a gente.
Seu piloto apresenta-se, que ha pouco
Na róta libya, emquanto observa os astros,
Da pôpa resvalou, foi de mergulho.
350Na escuridão lhe grita ao lubrigal-o:
«Que deus a nós roubou-te, ó Palinuro,
E te afundou no ponto? Nunca em falha,
Só nisto, Apollo achei, pois me cantava
Incolume n’Ausonia abordarias:
355E eil-a a promessa!» O nauta replicou-lhe:
«[1]Nem de Phebo a cortina, ó forte Anchiseo,
Te[2] illudiu, nem ha deus que me afundasse.
Regendo o curso, ao leme eu me aferrava;
Arrancado com fôrça, elle comigo
360Se precipita. Aos crespos mares juro,
Nada temi por mim, senão que a tua
Nau, sem leme, sem mestre, perecesse,
Crescendo os escarcéos. Violento Nôto
Me rojou pelo immenso equoreo golphão
365Tres noites invernaes: ao quarto lume
De cima de uma vaga enxergo a Italia.
Vou nadando, e em seguro já me agarro,
Grave e molhado, ás quinas de um rochedo,
Quando, encontrar suppondo grosso espólio,
370Homens crueis a ferro me acommettem.
Ora o vento, a maré, me joga á praia.
Pela jucunda luz, celestes auras,
Pelo augmento de Iulo e por Anchises,
Desta ancia me descarga: ou tu me enterra,
375Que o podes indo a Velia; ou, se ha maneira,
Se a genitriz, invicto rei, t’a indica
(Nem creio navegar desassistido
Queiras taes rios e a palude horrivel),
Dá-me a dextra e me leva pelas ondas;
380Do remanso da morte eu goze ao menos.»