Ouvi tinir o ouro e o ferro. Percorri a cidade e as suas entranhas — ora à flor da terra, podendo olhar o céu, ora em subterrâneos com uma abobada de túmulo pesando-me sobre o peito. E vi, com verdadeiro assombro e revoltada piedade, a máquina, vencedora do homem, a máquina a fazer miséria, a triturar o pobre para locupletar o rico; a máquina que vai relegando o esforço, como a pólvora inutilizou a bravura.

A água, o fogo, a centelha etérea, todas as forças puras combinavam-se para o crime, roubando o pão ao pobre, despindo-o, tomando-lhe o lar, lançando-o na estrada tão nu e tão desprovido como na hora amargurada do nascimento.

Visitei fábricas e oficinas e comovi-me diante dos engenhos desumanos que, assim como o arado, revolvendo, sulcando a terra, mata as ervas humildes para que a seara do pão cresça sem parasitas, assim vão eles desalojando os fracos em benefício dos fortes. Tudo vi.

Saíamos dos squares opulentos e chafurdávamos