Oh! O medo!... Ele vinha como uma inundação, eu sentia-o chegar, subir sensível, palpável como as grossas e escuras águas revoltas de uma enchente. Um prurido de dormência formigava-me nos pés que esfriavam regelando-se, como de pedra.

O medo chegou-me aos joelhos pesado, inteiriçante, de ferro, cingiu-me em anéis constritos, ciliciando-me o ventre, entalando-me o peito e o coração pôs-se a bater sôfrego, aflitíssimo como forçando as grades da prisão para evadir-se. A garganta travou-se-me jugulada, o trismo aperrou-me as mandíbulas e a minha respiração, aos sorvos, era a de um agonizante e rascava.

Estendi-me a fio no divã, fechei os olhos o uma visão fantasmagórica bruxuleou na treva — lileres de lume bailando, formas colubrinas estriando coriscos, um confuso e extravagante jogo malabar de fogos e negrumes, centelhas e línguas de chamas em promiscuidade com atros corpos de formas indecisas, ora em curva, ora longos; já esféricos, já em espiras.