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Fingis dôce sorrir, — meiga soltaes
Essa voz, cujos sons me vibram na alma?!
Que destino cruel em vós fadou,
Com taes encantos, alma já sem brilho!
Oh! — Porque assim, a mascara infernal
Com que tanta torpeza encobrieis,
Tão cedo ante mim a arremessastes? —
— Os extremos d’amôr que não sentistes,
As juras vãs que nunca me guardastes,
E que os vossos labios gota a gota
Sobre o meu coração cair fizeram,
Hoje em desprezo e odio se tornaram!
— Perfida! Quão fallaz, traidora heis sido
Para quem tanto amôr vos outorgára!!
— Olvidae o passado, eu vo-lo rogo,
E agora attenta ouvi, do crime vosso,
Sua negra relação, seu fim nefasto! —

Inspirae-me, ó minha lyra,
Minha lyra, meu primôr,
Sem ti faleço, valei-me,
Valei-me na minha dôr!

Afinae, ó lyra, a corda,
Que diga ingratidão,
Tangendo-a, quero cantar
Do mundo a maior traição!