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todas as fibras, percorrendo-lhe pelo organismo, extasiantemente, n'uma onda de fluidos maravilhosos, de longos languores, de demorados gozos, de supremas quintescencias de sensibilidade.
O sentido palatal, o sentido olfactivo e o sentido visual, profundas manifestações da vida mollecularisada, elle os sentia agora de uma aguda penetração superorganica, prodigiosamente penetrados da extrema caricia, dos phenomenos desconhecidos que o invadiam.
Um nimbo azul, ouro, azul, ouro, azul, etherisava-o, como se elle, por abstractas formas estranhas, gyrasse nas constelações, nas curiosidades prismaticas, cambiantes dos eclipses...
Parecia que áspides delicadas, de uma volupia ultra-celeste, enroscavam-se nelle, enlaçavam-lhe o corpo todo, sugando-lhe com insaciavel phrenesi a força vital das vertebras e dando-lhe uma nova vida ainda não vivida pelos seus nervos, ainda não experimentada pelo seu sangue, ainda não soffrida pelos seus sentidos — vida de outras origens, de outras sensações fugitivas, de outras complexidades multiplas, de outras nevroses absurdas, de outras esthesias candidas, de outros soes e de outras noites, de outras recordações e de outros esquecimentos... Uma vida sem os contactos epidermicos, sem os quebrantos doentes