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De tal homem a voz resoar ousa
Onde espiritos mil me circumdaram?
Mas ail que desta vez graças te rendo,
Tu dos filhos da terra o mais mesquinho.
Vieste arrebatar-me ao desespero,
Que a razão destruirme ameaçava.
Ai, que a apparição foi tão gigante,
Que misero pigmeu me achei ante ella!

 

Eu imagem de Deus, que me achei proximo
Da verdade eternal ao claro espelho,
Que do meu ser gosei na luz etherea,
Despojado do involucro terrestre;
Eu mais que cherubim, que a activa força,
Cheio d'aspirações, já me arrojava
A diffundir nas veias da natura;
Vida divina no crear gosando:
Bem caro o expiei, tão alto sonho,
Uma voz de trovão lançou-me ao longe.

 

Comtigo de egualar-me ousar não posso.
Se.a força de attrahir-te me foi dada,
Para reter-te falleceu-me a força.
No ineffavel sentir daquelle instante,
Tão pequeno e tão grande me sentia;
Tu, cruel, repellindo-me, arrojaste-me
Do commum dos mortaes á sorte incerta!
Quem me ha de ensinar? Que fugir devo?