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GUESTO ANSURES

«Nenhures, minha adorada amiga, a não ser no pulsar do meu coração, no ardor do meu affecto sem limites!»

N’este momento um remecher de folhas seccas soou entre a ramagem por traz dos dous amantes, que sobresaltados se levantaram. Mas como o ruido durasse apenas um instante não fez maior impressão.

«O que será? - ponderou a donzella, agitada.

«Alguma ninhada no covil, talvez; não te assustes.»

«Partamos, Guesto; é tarde... é tempo de nos separar.»

«Ó quanto me custa!»

«Até quando? — perguntou ella com voz suffocada. .

«Deus t'o dirá, que aprazal-o não sei. Ah! Ermesinda, se podesse pelo menos alentar a esperança que me acompanha sempre na tua presença; mas, ausente de ti, esvae-se como sonho.»

«Guarda o esmorecimento para quando ouvires que já não sou d’este mundo, ou que me vou unir a outro homem. Bem sabes que meu pae me não constrange á vontade. . .»

«Não t’a constrangerá, não te sogeitará a um vinculo odeado, mas nunca consentirá n’aquelle a que te comprometteste. Nunca soffrerá que dês a mão a quem segue o bando de Affonso. E o mortal odio em que tinha meu pae, a quem Deus dê perdão, e que hoje vota ao filho, só por ser filho, nao será empeço insuperavel á nossa felicidade emquanto elle viver? O proprio tempo, que com seus azos ainda a espaços me aviva a esperança perdida, não sei se nos devemos fiar d’elle; pois as voltas que dá ás cousas d’este mundo, quem as póde prever? Acompanhamol-o porém no seu curso, tão seguros ás vezes como quem da ribeira contempla as aguas de um rio caudaloso, até que, tragados pela corrente traiçoeira, somos precipitados para o abysmo. E quem nos diz, Ermesinda, que á espera de dias mais felizes, os successos no seu correr veloz e imprevisto se não apossarão de ti, compellindo-te a quebrar a fé jurada. . . »

«Nunca! Assim o juro, e tomo Deus por testemunha. Pois, medes as forças de minha alma pelas do meu corpo? Mal me conheces, Guesto Ansures. Tudo é possivel menos deslembrar-me do meu compromisso: ou serei tua ou de nin-