— Por que não, meu filho? O pensamento parece que é uma eletricidade. Nós não vemos a eletricidade comum, não sabemos o que ela é — e no entanto a utilizamos e transmitimos de um ponto para outro. Por um fio de cobre. E essa outra eletricidade misteriosa que se chama rádio, transmite-se sem fio nenhum. Ora, a eletricidade-pensamento transmite-se de um cérebro a outro.
— Verdade isso, vovó?
— Como não? Procure no dicionário a palavra telepatia.
Pedrinho abriu um dicionário que estava em cima da mesa e encontrou logo a palavra. Leu a definição: Telepatia — transmissão do pensamento dum cérebro para outro.
— Que coisa, vovó! — exclamou o menino muito admirado. — Nunca imaginei. Mas nesse caso o Visconde não está construindo nenhuma máquina boba, sem fundamento. Se existe a telepatia, e até os dicionários dão a palavra, nada mais possível do que uma máquina de captar o pensamento.
— Possível, sim, meu filho — e já realizada com a invenção do Visconde, se é certo o que a Emília diz. E poderá chamar-se psicocaptor; psico é pensamento em grego; e captor é captador.
Estava a discussão nesse ponto quando o Visconde apareceu, muito contentinho, todo a esfregar as mãos.
— Pronto! Já terminei a construção da minha máquina.
— O psicocaptor?
O Visconde fez cara de surpresa e em seguida iluminou a carinha.
— Que ótimo nome você descobriu para a minha máquina, Pedrinho! Exato. Saiu da sua cabeça?
— Não. Da de vovó confessou o menino — e o bem educado sabuguinho não disse o "Logo vi!" que Emília estava esperando.
— E agora? — perguntou esta.
— Agora vou fazer a experiência — disse o Visconde. — Preciso de um animalzinho qualquer, um besouro, uma taturana.
— Na minha pitangueira ainda está aquela taturana de ontem, a verde enfeitada de raminhos.