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portanto narrar os fatos com aque­la fidelidade, que permite-me a minha memória, tais quais mos contaram há bastantes anos.

É verdade que o nosso herói era valente e coraçudo, tinha muito pundonor e era dotado de nobres e altivos senti­mentos; mas o certo é que só nos primeiros dias pensou em vingança. As palavras de sua mãe tinham deixado profunda impressão em seu espírito, e talvez também que algum senti­mento íntimo ainda muito em gérmen e adormecido nas do­bras do coração, contribuísse para acalmar o seu justo ressentimento.

Doeu-lhe cruelmente a desfeita de que fora vítima, e não pôde por muitos dias disfarçar o despeito e rancor, de que se achava possuído. Mas uma imagem sedutora começava a aparecer a miúdo em seu espírito, e com seu aspecto angélico e sereno dissipava-lhe os negrumes e tormentos do coração. Era como uma fada branca e vaporosa, que vinha varrendo a bruma espessa dos horizontes, e fazia coar uma réstia de luz meiga no fundo daquela alma ulcerada. Era a imagem suave e melancólica de Paulina, que surgia por detrás da sombra de Lucinda, que se esvaecia; era o tipo nobre e delicado da filha do fazendeiro, que apagava na tela da imaginação as formas voluptuosas da rósea e faceira paulista.