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pois a onça apoderando-se dessa entrada voltara a frente para fora mostrando a seus perseguidores as alvas e enormes presas, e as formidáveis pa­tas capazes de estrangular um boi. Paulina para logo caiu desfalecida; a negra mais morta que viva recolheu-se toda ao ângulo, que a coberta formava com o chão, como querendo entranhar-se pela terra adentro, tiritando de medo e encomen­dando a alma a Deus.

Assim pois naquele mesmo lugar em que ainda há pouco se sentava a criatura mais primorosa da terra, um transunto dos anjos do céu, respirando inocência, paz e ventura, ala­pardava-se agora o mais feroz e hediondo dos seres da criação, com os olhos chamejantes de furor, e as goelas abrasadas em sede de sangue.

Enquanto o fazendeiro com mão trêmula carregava a espingarda, os negros, que não tinham por armas senão foices e machados, hesitavam na maior perplexidade sobre o que deveriam fazer. Atacar a fera sem ter certeza alguma de ma­tá-la de um só golpe, era perigosíssimo; ela podia num momento estraçalhar mais de um, ou o que ainda seria pior, recuando para o interior do rancho voltar sua sanha contra as duas infelizes, que lá se achavam na mais crítica e assustadora situação.

Enquanto os pretos vacilavam, e o amo escorvava