—«Excepto quando é o rei que n'estes sitios passa...»
—«Piedade!»
E o louco rei, sem resposta volver,
Aos monteiros bradou:—«Prendei-me essa mulher,
Conduza-m'a um de vós sentada na garupa
Do cavallo. A galope! Ávante, corceis! Upa!»
E tudo se perdeu n'um turbilhão de pó
Ao longo do caminho. O pinhal ficou só.
Em noites de luar, noites de primavera,
Ouvia-se dizer:—«Onde estás tu, Glycera?»
N'esse ermo pinheiral, e um longo choro após.
Finda a verde estação, calou-se a triste voz,
E nunca se ouviu mais sahir d'entre os pinheiros.
Um dia, por acaso, um rancho de vaqueiros
Passou alli, e viu estendido no chão
Amyntas, o pastor. Chamaram-no em vão,
Que elle não respondeu. Era gelado, frio.
Dizem que succumbiu ao vêr chegar o estio
Sem Glycera voltar. E tinha a luz do sol
Por cirio funeral, e folhas por lençol.
Mas o rei James V, em seu palacio bello,
Ao pé do lago azul, que espelhava o castello,
Estranhava a Glycera esse tão louco amor,
Que nos braços de um rei pranteava um pastor.