Quanto a Vicente, que dormira a noite inteira sem interrupção alguma, levantou-se às sete horas, tomou uma xícara de café, vestiu-se e saiu.

Antes de sair perguntou à mucama de Emília se estava acordada. Disse-lhe ela que não. Vicente deixou dito que ia ao bota-fora de Valentim.

E saiu, com efeito, com direção ao cais próximo para tomar um escaler e daí seguir para o vapor que devia partir às oito horas.

Valentim já lá estava.

Quando Vicente subiu à tolda, Valentim foi direito a ele para abraçá-lo.

O vapor estava prestes a largar.

O pouco tempo que havia foi empregado nas últimas despedidas e nos últimos protestos de amizade.

— Adeus, meu pai! disse Valentim. Até breve.

— Breve, deveras?

— Deveras.

— Adeus, meu filho!

Tal foi a despedida cordial, franca, sentimental. Vejamos agora o anverso da medalha.

Quando Vicente voltou para casa encontrou Emília de pé. Estava pálida e desfeita. Vicente foi a ela sorrindo.

— Não te entristeças tanto, disse-lhe, ele volta.

— Partiu, não?

— Agora mesmo.

Emília suspirou.

Vicente fê-la sentar ao pé de si.

— Ora, vem cá, disse-lhe, se te entregas a essa dor, ficas magra, feia, e quando ele vier, em vez de eu lhe dar uma mulher refeita e bonita, dou-lhe uma que ele não deixou e que não era assim. Um mês depressa se passa e as lágrimas não fazem correr os dias mais depressa. Pelo contrário...

— Mas eu não choro, meu pai.

— Choraste esta noite. Era natural. Agora consola-te e espera. Sim?

— Sim. Ele foi triste?

— Como tu. É outra criança. Nada de choros. Esperança e confiança. Ora bem...

Emília procurou rir, como podia, para consolar o pai; e durante os dias que se seguiram não foi encontrada a chorar uma só vez que fosse, nem os seus olhos apareciam vermelhos de chorar.

É certo que se alguém enfiasse um olhar pela fechadura da porta do quarto de Emília vê-la-ia todas as noites antes de deitar-se rezar diante do pequeno oratório e derramar lágrimas silenciosas.