Nesta hipocrisia de dor, durante o dia, e neste desafogo do coração durante a noite, passou Emília os primeiros quinze dias depois da partida de Valentim.

No fim de quinze dias chegou a primeira carta de Valentim. Era uma ladainha de mil protestos de que não se esquecera de ambos, e uma promessa formal que no fim do mês estaria de volta.

Essa carta foi lida, relida e comentada pela filha de Vicente.

Vicente, mais contente com essa carta pelo efeito salutar que produzira em Emília, resolveu fazer o que pudesse para acelerar o tempo e tornar menos sensível a ausência de Valentim.

Multiplicou e inventou passeios, visitas, jantares, distrações de toda a natureza.

Este meio produziu algum efeito. Os outros quinze dias correram mais depressa, e Emília chegou alegre ao último dia do mês da fatal separação.

Nesse dia devia chegar exatamente o vapor que trazia Valentim. Levantou-se a moça mais alegre e viva. Tinham-lhe voltado as cores às faces, a luz nos olhos. Era outra. E para ela os objetos exteriores, que até então tinham conservado um aspecto lúgubre, eram também outros. Tudo se fez risonho como o sol, que nesse dia apareceu mais vivificador.

Vicente levantou-se, abraçou a filha e preparou-se para ir a bordo buscar Valentim.

Emília suplicou-lhe que se não demorasse por motivo algum; que viesse logo, mal desembarcassem.

Vicente saiu depois de fazer esta promessa à filha. Emília ficou ansiosa esperando o pai e o noivo.

Infeliz. Daí a uma hora voltava o pai, triste, cabisbaixo, só. O noivo não o acompanhava.

— E ele, meu pai?

— Não veio.

— Não veio?

— Não.

— Nem uma carta?

— Nada. Mas é ainda cedo; pode haver cartas; porém mais tarde... É natural que escrevesse, é mesmo certo. Esperemos.

Emília desfez-se em prantos.

Mas Vicente consolou-a dizendo que tudo podia ter explicação; que naturalmente a missão a que fora Valentim o explicasse, e só daí a dias o pudesse fazer.