Esperaram uma carta de explicações, um, dois, três, cinco e dez dias: nada.

— Nada, meu pai! Nem uma carta! dizia ela. Ele não me ama.

Vicente sofria vendo a dor de Emília. Não podia convencer pelo raciocínio a uma mulher que se dirigia pelo sentimento. Preferiu deixá-la desabafar e escrever a Valentim, ao mesmo tempo que procurava informar-se, como empregado público, dos motivos que teriam demorado Valentim na província.

A carta de Vicente contava tudo o que se passara, o desespero e a dor de Emília vendo-se malograda, como ele próprio, na expectativa de ver chegar Valentim.

Expedida a carta, Vicente procurou indagar as razões poderosas que tinham demorado o noivo de sua filha; mas desde as primeiras tentativas viu logo que não se lhe seria fácil entrar no conhecimento desses motivos atenta a gravidade da questão, e a gravidade estava no segredo guardado pelo próprio mensageiro. Todavia uma consideração se apresentou ao espírito de Vicente: a missão, por grave que fosse, não era política; o ministro podia, sem entrar na explicação por menor dessa viagem, dizer-lhe se Valentim voltava ou não cedo.

Quando se resolveu definitivamente a ir ao ministro e dizer-lhe, se necessário fosse, as razões de seu passo, chegou novo vapor e não trouxe carta alguma em resposta à escrita por Vicente.

Diante desse fato Vicente não hesitou.

Foi ao ministro.

Não era esse o mesmo chefe da repartição em que Vicente era empregado, mas não era absolutamente estranho ao velho pai, por já ter servido na pasta correspondente à sua repartição.

Vicente declarou-lhe os motivos que o levavam, e esperou, adiantando palavra de honra, que o ministro lhe dissesse qual a demora de Valentim.

O ministro pareceu não perceber a pergunta e pediu que ele a repetisse mas nem depois da repetição ficou mais instruído.

O ministro não só não tinha prometido nada a Valentim, como até nem o conhecia.

Vicente enfiou.

O caso parecia-lhe tão extraordinário que não quis acreditar em seus próprios ouvidos.

Mas o ministro repetiu o que dissera e deu-lhe palavra de honra e que dizia a verdade.

Vicente despediu-se do ministro e saiu.